"Cada vez mais filmes mostram velhas e novas figuras da banda desenhada usando magnificos poderes para salvar uns e castigar outros, mas na vida real há gente extraordinária capaz de vencer os obstáculos: seus e dos outros.
Super-herói tornou-se sinónimo de adereços coloridos, máscaras, capas e calças justas, martelos e garras ou automóveis e motorizadas que sublinham os superpoderes indispensáveis para a eterna batalha do bem contra o mal. Costumam ainda esconder a sua identidade. Contas feitas, do lado de cá das bandas desenhadas e dos efeitos especiais há inúmeros heróis de cara descoberta a viver entre nós. São profissionais e voluntários que todos os dias dão o seu tempo e empenho para salvar e melhorar a qualidade de outras vidas. Alguns não vestem capa, mas bata branca, para outros um simples telefone é a melhor arma de salvamento, e ainda há os que, tal como na ficção, se deslocam em veículos próprios e usam acrónimos ao peito. Inspirando-se nos vários tipos de heróis, surgiu em Loures o projeto «Nós Somos Super-heróis!». Destinada a alunos das escolas C+S do concelho, a iniciativa nasceu no seguimento de várias atividades desenvolvidas pelo Centro UNESCO A Casa da Terra, onde foi detetada a tendência de muitas crianças e adolescentes para idolatrar e retratar como heroicas as figuras de familiares ou amigos que se encontravam presos, por razões ora desconhecidas ora questionáveis.
Foi este o ponto de partida de várias conversas semanais entre estes alunos e profissionais de diferentes áreas, como jornalistas, polícias, escritores e atletas paraolímpicos. As sessões, de duas horas no máximo, foram acontecendo nas bibliotecas escolares com o objetivo de dar a conhecer algumas histórias de vida dos intervenientes, além de mostrar modelos e realidades diferentes e fomentar junto a um público tão especial a esperança e a capacidade de criar e ter êxito mesmo em contextos desafiantes.
No ano de estreia, «Nós Somos Super-heróis!» realizou um total de 19 sessões com 23 convidados, chegando a cerca de 1740 jovens. Teve, emtre outros efeitos, o mérito de provocar conversas e atitudes proactivas e de unir as comunidades das escolas que visitou.
O projeto, que regista este ano a segunda edição, nasceu de uma parceria entre a Câmara Municipal de Loures, a UNESCO, o Centro UNESCO A Casa da Terra e a Plataforma Imigração da Fundação Calouste Gulbenkian.
Deixámo-nos contagiar pela originalidade e espírito positivo deste conceito «made in Loures» e fomos também à procura de alguns super-heróis do quotidiano."
Helena Pinto
26 anos, enfermeira, bombeira voluntária
Wonder Woman
"Helena tinha 15 anos quando decidiu, por sugestão de um conhecido, fazer voluntariado nos bombeiros da terra, Mora. «Nos bombeiros lidamos com duas vertentes, a dos fogos e a da saúde, em que fazemos urgência pré-hospitalar. Depois, aos 18 anos, fiz um curso de socorrismo e penso que isso, aliado ao facto de já lidar com saúde, me fez o "clique" e motivou a escolher enfermagem».
Hoje, para além de bombeira, é enfermeira no centro de saúde da vila alentejana e considera que em ambos os casos a falta de meios é o que mais dificulta o sucesso do seu trabalho: «Por vezes, no centro, há tratamnetos e cuidados de que os doentes necessitam, que estou capacitada para dar, mas não o posso fazer porque não temos materiais específicos. Como bombeira, esse é também um dos maiores problemas - por exemplo quando chegamos a um incêndio que até conseguimos combater rapidamente mas não o podemos fazer porque faltam carros, água ou pessoas».
Com uma vida tão dedicada a socorrer os outros, Helena conta já com pelo menos uma mão-cheia de histórias emocionantes, como a que viveu no Sabugal durante o combate a um incêndio: «O vento mudou inesperadamente e o fogo que queimava de um dos lados da estrada passou para o outro, criando uma esécie de túnel que nos deixou encurralados... Conseguimos salvar-nos todos, felizmente».
Apesar dos perigos, a vontade de ajudar e a gratidão que recebe daqueles que assiste motivam-na a superar as dificuldades e a persistir na vontade de fazer a diferença: «Nem sempre o nosso trabalho é reconhecido, mas esses momentos e o facto de sentir que em determianda situação fiz algo de bom e importante para a vida de alguém tornam o "saldo" sempre positivo»."
Artigo retirado na integra da Revista da Fidelidade - Companhia de Seguros, SA, n.º 9, abril 2013
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