Texto 8..

Poema, um poema.

Como raio vou escrever um,

Se tudo o que sei sobre literatura,

Aprendi a ler numa embalagem de Nestum.

Mas eu nem o preciso escrever,

E mesmo que o quisesse fazer,

Já do meu pai ouvi dizer,

Que ainda tenho muito que aprender.

Que isto de escrever a rimar,

É bem mais difícil do que escrever a prosar,

As palavras assumem outro significado,

Como um grito preso que quer ser libertado.

Então, pego num livro de Antero de Quental,

Leio sobre a juventude, e sobre a revolução,

E sobre a metafísica, escrito com tal elaboração,

Que tudo me parece simples e natural.

Pego no papel e na caneta, na folha colocada na máquina de escrever,

Fecho os olhos e penso nas cores, gostos e cheiros,

Em algo que divague como uma borboleta, mais calmo que um Dantas a morrer,

Porque BASTA PUM BASTA haver um Almada Negreiros.

Mas as palavras não saem e vejo o tempo a passar

A escorrer-me por entre os dedos de uma mão mal fechada,

Tentar escrever um poema é meter-me numa alhada,

Mas de falta de perseverança, ninguém me irá acusar.

Talvez se usar palavras grandes e difíceis de pronunciar,

Se escrever sobre algo que ninguém consiga alcançar,

Posso sempre alegar que sou mal interpretado

Um Fernando Pessoa ostracizado.

Mas o Manuel Maria Barbosa du Bocage

Escrevia de forma simples e foi famoso,

Talvez esteja a ser, comigo, demasiado rigoroso,

Falta-me arcaboiço, ter o full package.

Usar estrangeirismos é outra asneirada,

Mostra a minha inaptidão para a língua portuguesa usar,

Faz com que, sem dúvida nenhuma, me vá afundar,

EU QUERO SER UM ARY DOS SANTOS E ESCREVER UMA TOURADA!

Um objetivo, uma meta eu quero atingir,

Só tenho de engendrar um estratagema,

Depois a solução, eu sei, há-de surgir,

Mas a verdade é que continuo com o mesmo dilema,

Como raio é que eu vou conseguir,

Escrever um poema?