Estava eu impacientemente na sala de espera...
- Boa tarde, Sr Mustache...
- Boa tarde doutor, o menino já nasceu?
- Sim, e é mesmo por isso que quero falar consigo.
- Há algum problema? Ele está bem?
- Bem... É um menino perfeito... Diga-me, você tem familiares de ascendência africana na sua familia?
- O quê? Não, não tenho... Pelo menos que eu saiba. Mas porque faz essa pergunta?
- Por nada... Faça o favor de me acompanhar..
Entrei no quarto onde ela estava. Ela e o menino recém nascido. E o que era uma expressão de expectativa rapidamente se transformou numa expressão de confusão. Ali estava ele, olhos fechados, boquinha aberta, muito sossegado no peito dela. Mas em vez de ser rosadinho, era negro. Depois do choque inicial, aproximei-me da cama e, com uma voz trémula perguntei-lhe..
- Cátia, o que se passa aqui? Como é que o nosso filho é negro?
- Ah sabes, é fácil de explicar. Eu tinha um tetra-avô que era africano e os genes ficam nas famílias e pode acontecer isto...
- Mas eu nunca vi ninguém da tua família que não fosse branco! Diz-me a verdade! Este menino é mesmo meu filho?
- Sim, meu morzinho! Claro que é! Eu seria incapaz de te enganar...
E foi então que o Romeu, que estava sentada numa cadeira a um canto da sala se levantou e falou..
- Aí dama Caty D., já chega de enganar aqui o mano.
- Enganar-me, como assim?
- Dexculpa mano, más aqui o escurinho é méu filho. Eu é qui dei di frosques quando soube quê ela estava prenha e ela agárrou-se ao premêro mano quê lhe abriu às pernas, uma prá Luz e ótra prá Alvaláde, e fêz dáquela coisa góstosa a sêgunda cercular! Más éu agora quero assumir o caçula e ficar com esta dama gata e expetácular!
Há medida que ela se ia explicando eu ia viajando para um universo cada vez mais longinquo de toda aquela situação. Ao que parece quando conheci a Cátia Daniela ela já estava grávida. Do Romeu! Só que ele disse que não queria filhos e desapareceu. E ela começou à procura do primeiro otário que conseguisse enganar. Fui eu, que entre dissabores amorosos e o meu eterno romântismo, me deixei iludir. Fui eu que servi de palhaço este tempo todo. E teria continuado a sê-lo, mas num acaso, ela e ele voltaram a encontrar-se (naquela nossa ida à Primark do Colombo) e decidiram voltar a estar juntos. Isto tudo ao mesmo tempo que aproveitavam a minha boa vontade para pagar contas de hospital e as coisas necessárias para depois do crescimento da criança.
Com isto tudo, acho que perdi de vez a capacidade de acreditar nas mulheres e no amor. Saio sempre magoado quando me envolvo com uma mulher, fico sempre a perder mais do que aquilo que ganho, dou sempre mais do que aquilo que recebo (a todos os niveis), e começo a estar muito farto de tudo isto. A partir de hoje vou olhar para as mulheres como elas olham para mim: um objeto que só serve para proporcionar algum prazer.
Eu, que tanto quero ter um filho, que é a coisa que mais anseio desde os meus 21 anos, sonhei durante 7 meses com um coisa que acabou por não ser para mim. Sonhei com o que é, agora, a realidade de outra pessoa, de outro casal. Foi um desmoronar de tanta coisa e um pedaço de mim que dificilmente se irá reconstruir. Tudo porque ainda acredito nas pessoas e no amor...
Mas digo-vos uma coisa com toda a certeza: o Amor é uma merda!