quinta-feira, 16 de maio de 2013

Onde fui esta manhã? Ver se posso começar a ajudar..

Hoje às 8h da manhã estava acordado e pronto a sair da cama. Tinha que estar às 9h no IPO - Instituto Português de Oncologia.
Não! Não segui a ideia da Jolie e fui tirar os tomates, porque mais vale prevenir do que remediar..
Não! Não os tenho usado para nada a não ser encher boxers..
Sim! Apesar de tudo, acredito que isto ainda vá mudar e que lhes dê muito uso.

Mas voltando ao que importa, fui ao IPO, mais concretamente à sede da LPCC - Liga Portuguesa Contra o Cancro. Porquê? Porque tinha uma entrevista na sequência da minha candidatura a voluntário, que já tinha feito em junho do ano passado..

Porquê voluntariado e logo nesse sitio? Ora porque senti essa necessidade. Porque tudo o que faço é só a pensar em mim.. e estando numa tarde do ano passado a refletir sobre a minha pessoa, pensei: "Eu tenho trabalho.. tou a tirar uma licenciatura.. tenho casa.. carro.. amigos.. gaja hei de ter brevemente (ainda não tenho).. faço desporto.. mas parece que me falta algo.. tipo... ajudar os outros.. é isso mesmo! Falta-me fazer algo em prol dos outros, algo onde eu possa ajudar recebendo apenas gratidão em troca.."
E comecei a pesquisar sobre os vários tipos de voluntariado que podia fazer. A LPCC já me tinha passado pela cabeça, li mais sobre eles e as suas iniciativas, e depois de pensar no meu avô que morreu com cancro e do sofrimento que foi para a minha familia, tomei a decisão de me inscrever. Fui até lá, preenchi o formulário, e disseram-me que se me chamassem para a entrevista, seria só para dezembro ou janeiro. Eu aguardei, e passou-se dezembro e janeiro e nada de contacto. Já estava a perder a esperança, até que, recentemente, recebi um mail a pedir para eu marcar um dia para a entrevista. Marquei e fui lá hoje!

A entrevista correu bem, a coordenadora explicou-me tudo bem explicado, falámos sobre mais coisas fora do âmbito do voluntariado, falei sobre mim, sobre o que me levou a querer fazer voluntariado num sitio onde é tão dificil e o "fantasma da morte paira sobre todas as camas", se eu sabia o que a Liga fazia (segundo a coordenadora, sabia mais do que todos os que já tinha entrevistado), até que chegámos ao ponto cerne da questão: e disponibilidade para fazer um turno de 3h por semana?

A verdade é que eu sempre soube que teria o tempo limitado, só não sabia que era tanto.
O voluntariado é de segunda a sábado - sendo que no sábado é só para ajudar nas refeições - e começamos a fazer as contas:
- De segunda a sexta, trabalho das 9:30 às 18h (ok, posso não estar a trabalhar, mas tenho que estar no escritório)
- De segunda a sexta, tenho aulas na faculdade das 19 às 23h
- Tenho que comer e dormir
- Tenho que estudar
- Tenho os treinos
- Eles não querem que o voluntario falte ao trabalho ou à escola

Estava bastante complicado... E onde eu mais gostava de ajudar era na pediatria.. vamos la ver os horários desses turnos.. ora portanto, há um turno das 11 às 14h! Com jeitinho, nesse dia da semana, vou para o trabalho às 8h (ganho logo ali 1:30), saio a meio da manhã e fico sem almoçar (who the hell cares about lunch when children needs me?) e depois fico até às 19h (mais 1h que o normal) e mesmo que chegue um pouco atrasado às aulas, faço as minhas horas de trabalho, faço o voluntariado, vou às aulas, portanto, parece-me exequivel!

Agora só me resta falar com quem de direito lá no trabalho, enviar mail a confirmar que posso este turno, e esperar que no final de junho, me contactem para começar o estágio de 3 meses!

E é isto! :)
Se puderem, se acharem que têm tempo, se sentirem essa necessidade de ajudar, de fazer algo útil, se infelizmente estás desempregado/a, e nem sabes o que fazer durante o dia, o que não falta por aí são pessoas e instituições a precisarem da ajuda de voluntarios! Não vais receber nada que te ajude a pagar as contas, vais ter que gastar dinheiro nas deslocações, mas saberes que ajudaste uma pessoa a superar uma fase dificil da sua vida, é priceless!

23 comentários:

  1. Ficam-te muito bem esses sentimentos. Até porque, segundo ouvi dizer, uma grande percentagem das pessoas que querem fazer voluntariado, depois da entrevista chega-se à conclusão que o querem fazer para se ajudarem a si próprios, porque se sentem sós ou inúteis no desemprego e não é esse o espírito que se pretende num voluntário. O voluntário tem que estar motivado para os outros.
    Vai ser uma estopada conciliar trabalho, estudo e voluntariado... mas quem corre por gosto, não cansa. :)

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    1. Sim, vai ser dificil conciliar tudo num dia que só tem 24h! E embora eu só durma 4 delas, grande parte das outras 20 já estão preenchidas. A coordenadora disse que tinha o perfil, o maior problema é tentar arranjar o tempo.
      E tens razão, muitas vezes as pessoas vão para isto, sem saberem porque o fazem ou a fazê-lo pelas razões erradas! Daí a importância desta fase de triagem tão longa e precisa!

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  2. Anónimo21:01:00

    Há uns anos atrás também queria fazer voluntariado no departamento de oncologia do hospital da minha cidade. Mas depois o tempo foi passando e eu nunca mais me lembrei de tal coisa. Mesmo que eu quisesse fazer voluntariado agora nalgum lugar não podia. Não tenho tempo.

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    1. Esta ideia já cá estava há algum tempo, e sei que me vai ser bastante dificil conseguir conciliar tudo! Mas é só uma vez por semana e durante 3 horas (varia um pouco claro), e sou capaz de abdicar de umas horas de distração, para "distrair" quem realmente precisa! :)

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  3. Fiquei contente por saber disto. Acho que é preciso coragem e amor ao próximo. Espero que corra bem.
    (olha lá, isto não foi para amolecer corações e arranjar miúda, pois não?:p)

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    1. Também espero que corra bem, e que consiga ir para onde mais quero.. Às vezes só coragem e amor não chega. A coordenadora disse-me que há casos de voluntarios cheios de coragem e assim que veem os doentes, não conseguem.. Mas eu, infelizmente, já vi os horrores do cancro de perto, e sinto-me capaz de ser um bom ombro de apoio.

      (se eu quisesse amolecer corações de meninas giras e lindas e sexys - como todas as que por aqui passam - eu mostrava o meu extrato bancário! Se gostassem de mim, depois de verem aquela miséria, definitivamente eu já lhes tinha amolecido o coração com outra coisa qualquer! haha)

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  4. Tomaste uma boa decisão, espero que consigas executar o teu plano :)

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    1. Obrigado anokas, também espero conseguir! :)
      E como foi dito ali acima, "quem corre por gosto, não cansa"!

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  5. Meu caro, acho muito saudável essa tua necessidade de ajudar, especialmente no IPO. E digo-te isto, não na óptica do voluntário, mas na do utilizador, uma vez que sou um dos privilegiados que visitam aquelas instalações. E leste bem: privilegiado. Porque se a doença me empurrou para lá, a verdade é que sempre fui lá tratado muito bem, quer por médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar ou ...voluntários.
    Os textos que o MEC escreveu enquanto a mulher lá esteve tocaram-me especialmente, porque me revi naquelas palavras, na gratidão que ele sentia pelo IPO.
    Escolheste a Pediatria que é uma das zonas mais difíceis. Porque se nos custa ver os outros sofrer (e como se sofre ali) quando se trata de crianças as emoções tocam um extremo muito dolorido. Quando há dois anos, ia à consulta da enfermeira de Radioterapia passava pela Pediatria, e, sabendo o que me custavam os tratamentos, a debilidade que nesses meses sentia, ficava profundamente envergonhado ao ver aquelas criança em piores situações que eu, a encararem tudo aquilo com um sorriso, com força ainda para brincarem uns com os outros. Foi pelo exemplo deles que nunca me quis queixar. Se eles suportavam aquilo daquela maneira, porque não o havia eu de suportar com ânimo?
    Também pensei várias vezes já em ir-me lá oferecer para voluntário. E agora que parece que a minha situação estabilizou, vou ver se me decido, até porque tempo tenho eu.

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    1. Vic, obrigado por este testemunho. Sei que não são todas as pessoas que admitem que têm ou tiveram um cancro. Ainda há muito o estigma da sociedade em olhar como "contagiosos", as pessoas com cancro. Daí a importância do IPO e dos voluntarios da Liga (que às vezes são mal vistos fora de um hospital oncologico, porque se um voluntario for a um hospital publico ver um doente, toda a gente sabe que essa pessoa tem cancro).
      Gostaria de facto de conseguir ficar na pediatria, acima de tudo porque me custa imaginar um mundo, um futuro, sem crianças! Claro que também não o imagino sem pessoas mais velhas (passado, sabedoria) e as de agora, mas a juntar o amor que tenho por crianças e por saber que também elas têm uma tendência natural em gostar de mim, acho que eu, ali, faria ainda mais a diferença. E é verdade, quantas vezes não olhamos para as crianças e as vemos pequenas e frágeis, e depois são elas os nossos pilares de força e vontade!
      Se te decidires por ir, acho que uma pessoa como tu, que já passou por uma situação idêntica aos doentes que lá estão, seria uma mais valia.

      Grande abraço!

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  6. Grande decisão, louvo a tua atitude. Gostava mesmo muito de ter estômago para conseguir fazer o mesmo, mas sei que não conseguiria. São situações que me tocam muito - especialmente crianças...

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    1. Compreendo-te. Esta decisão foi muito ponderada, nada tomada de animo leve e só porque sim... Espero mesmo que consiga! :)

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  7. Acho que te fica muito bem e gostava muito de te seguir o exemplo. Por acaso terão turnos pós-laborais? :/

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    1. Pós-laborais não tem... o que tem até mais tarde é os jantares, mas começam tipo 18h às 21h.. :(

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  8. Uma atitude de louvar sem dúvida. Eu não teriam coragem, crianças em sofrimento é a maior injustiça do mundo, fico destroçada ao vê-las, que possas fazê-los sorrir um pouco.

    Bjs

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    1. Olá Canca,

      Sim, é de facto injusto, não só para as crianças mas também para os pais, que às vezes até tiveram dificuldades em os ter, e depois ainda surge uma coisa destas.
      Acho que conseguirei por-lhes um sorriso no rosto.. :)

      Bjs e bem vinda

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  9. Anónimo12:04:00

    Admirável!!! é a única palavra que encontro...
    Há alguns anos atrás o meu pai foi seguido no IPO. Eu e a minha mãe só temos a agradecer pelo apoio que nos deram (mais a ela porque passava lá muito mais tempo). Eu sei que não tenho estofo para ser voluntária.. Chorei de todas as vezes em que lá entrei e de todas as vezes que alguém desabafava comigo na sala de espera. Na pediatria então.. nem era preciso falar com ninguém, as lágrimas corriam-me pela cara só de olhar para as crianças..

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    1. São 390 voluntários que lá estão, e mesmo assim são poucos paras as necessidades da Liga e do IPO. A coordenadora disse-me que o trabalho do voluntário é dificil, mas que os doentes e a familia agradecem imenso o que fazem, e em alguns casos, os voluntarios tornam-se confidentes.. E às vezes é tão mais fácil falar para um "estranho"..

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  10. Tenho o exemplo da minha mãe que é voluntária no hospital da minha cidade e espero um dia eu propria seguir o mesmo o caminho. Para já, e estando eu fora do país, ainda tenho o obstáculo da língua (norueguês) para poder ser voluntária. Não sei explicar o porquê mas sinto-me sempre mais vocacionada para os idosos.
    Enfim...Ganhaste uma leitora :)

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    1. Olá Marta, bem vinda! :)

      Compreendo, e de facto a barreira lingua, ou comunicação, é mesmo um enorme obstaculo, e certas coisas não vão lá só com gestos.
      Sabes, acho que idosos e crianças são o que mais mexe nas pessoas, talvez pelo facto de os acharmos mais "fracos e necessitados" e às vezes não é bem assim, e acabam por ser estes enormes pilares de força e esperança para os outros!
      Espero que também consigas ajudar, se não onde estás agora, quando voltares para Portugal!

      Beijos e estás convidada a aparecer sempre que quiseres! :)

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  11. Aí está uma coisa que está nos meus planos... Não sei onde, mas tenho andado a pesquisar. Falta mesmo o pontapé de saída, que é como quem diz a inscrição.

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    1. Não sei de onde és, mas em Lisboa tens muita escolha.
      Uns mais "pesados", outros mais "leves", mas todos serviços de voluntariado necessário! :)

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    2. Mais para o Centro. Aqui também há várias opções. A dúvida está precisamente nos mais "pesados" ou "leves"... Estamos a falar a nível psicológico, certo? Se por um lado me vejo no Hospital Pediátrico ou numa Casa Acreditar, por outro penso que isso me vai partir o coração. Se vou para a rua, idem, idem... É uma ideia que ainda está à procura de solidez psicológica.

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Dá a tua aparadela..