Todos devem ter conhecimento que os médicos se preparam para fazer uma greve nos dias 11 e 12 de Julho. Quem não sabia, fica agora a saber! Mas descansem que os serviços mínimos serão assegurados, mas apelam para que as pessoas só se dirijam ao hospital em caso de muita necessidade.
Se calhar muitos estão a pensar porque é que os médicos estão a fazer greve, afinal, eles ganham milhares de euros e têm privilégios que outros cidadãos não têm. Mas será mesmo assim? Eu não sou médico, nunca sequer o ponderei ser, mas tenho amigos que o são, e por isso sei o lado que a comunicação social e o governo não conta. Não desprezando outras profissões, dificilmente alguma se consegue comparar em termos de responsabilidade à profissão de médico. Afinal, é a responsabilidade da Vida, a vida dos outros, a nossa vida!, que está nas mãos dos médicos! Aqui não há a mínima margem para erro. É certo que todas as outras profissões têm o seu valor, a sua necessidade e a sua importância, mas terão o mesmo nível de exigência e responsabilidade?! Talvez os pilotos de aviões, condutores de ambulâncias, bombeiros, enfermeiros, aquelas que de alguma forma influenciam directamente a vida das pessoas! E sobre os enfermeiros, já lá chegarei.
Se eu errar ao fazer um desenho, posso corrigir facilmente. Se um varredor de rua se esquecer de limpar uma rua, amanhã poderá lá voltar. Se um empregado de limpeza se esquecer de lavar o chão, rapidamente poderá encher o balde com água e tratar do assunto. Os médicos já não é bem assim. O mais pequeno erro pode implicar a perda de uma vida humana. E para evitar estes erros é preciso ter médicos formados, treinados e em condições de actuar numa fracção de segundo, médicos de qualidade que consigam gerir uma equipa de outros médicos. E o que é que tudo isto tem a ver com a greve?
Um dos motivos da greve, está assente na preservação de um SNS (Serviço Nacional de Saúde) de qualidade, rigoroso e competente, que os médicos e sindicatos dos médicos vêm ser destruído por um governo sedento de cortes, sem olhar a quem prejudica! Neste caso, o mais prejudicado será sempre o utente do serviço. O Ministério da Saúde pretende em parceria com os Hospitais e empresas privadas, contratar médicos "low cost", ou seja, aqueles que cobrarem menos por hora para preencheram cerca de 2,5milhões de horas de trabalho médico! Ora, certamente que um trabalho de qualidade não se vende barato (em nenhuma profissão!), e possivelmente quem vende mais barato tem a noção que o seu serviço é de inferior qualidade. E quem é que isto afecta?
- O médico: Porque, como se percebe, vai deixar de ser contratado pela sua qualidade, mas sim pelo preço que cobra e a rapidez com que despacha os doentes. A proposta é de no mínimo 4 doentes por hora. Façam as contas.. entre o médico chamar o doente, ele vir, entrar, sentar, dizer o que sente, aproveitar para pedir qualquer coisa para o marido ou a filha, levantar e sair, vejam quanto tempo sobra para ver realmente o doente - não há espaço para medicina de qualidade. E quem será o principal afectado? O utente.
- O utente: Os doentes vão mudar de médico todos os meses/ano, consoante a empresa que ganhar o concurso. Um doente de longo seguimento (oncológico p.e.) pode ver o seu médico mudado mensalmente. Ou uma pessoa que vá uma consulta e é atendida por um médico, e na consulta seguinte por outro médico que não faz ideia da história do paciente. Isto irá criar no paciente a sensação de que a sua vida não passa de uma bola a ser passada de mão em mão.
- O SNS: Com a impossibilidade de diferenciação e a redução drástica na formação o serviço prestado vai degradar-se (porque a tudo isto se junta o facto de em vez de contratarem pessoal para os quadros, preferem contratar a recibos verdes.). Os serviços como os conhecemos vão, a seu tempo, desaparecer. A falta de formação contínua, aliada ao critério do mais baixo preço vai tornar o SNS num serviço medíocre, onde os que ficam não são os melhores, mas os que fazem mais barato.
Eu sei que muita gente se está a borrifar para isto tudo, por tudo o que disse no inicio. Mas não nos podemos esquecer que se não tivermos médicos de qualidade, não teremos prestação de serviços de saúde de qualidade, e somos nós, utentes, que saímos prejudicados.
A tudo isto se juntam outros tantos motivos para esta greve dos médicos, que não é mais do que uma luta que nos vai beneficiar a todos enquanto cidadãos!
Deixo aqui abaixo link onde podem ver mais informações sobre tudo isto:
Cliquem aqui -> Motivos da greve, pré-avisos dos sindicatos e comunicado conjunto dos Sindicatos Médicos e da Ordem dos Médicos
Também os enfermeiros se vêm numa situação semelhante, onde também os seus serviços vão ser leiloados a quem os quiser prestar ao mais baixo preço. Tal como nos médicos, os enfermeiros têm um percurso académico longo e difícil, e para obterem bons resultados terão que fazer bastantes sacrifícios durante o tempo da sua formação. Mas a sua formação e os seus sacrifícios não acabam quando terminam o tão desejado curso! A sua formação terá que ser continua enquanto desempenharem as suas tarefas, e os sacrifícios serão cada vez maiores e constantes.
A profissão de enfermagem, sendo muito desgastante, afecta particularmente a vida pessoal de cada um, justamente por ter um ritmo de vida totalmente diferente dos que muitas pessoas têm (trabalhar por turnos, trabalharem 24h seguidas, fins de semana, feriados, épocas festivas).O peso da
responsabilidade e muitas vezes as emoções resultantes das situações de vida de muitas pessoas a quem têm que prestar cuidados, e que presenciam todos os dias. Acarreta a responsabilidade de muitas vidas nas suas mãos, sendo que se contribui para a recuperação das pessoas, mas sobretudo por estar na posição de actuar perante o limiar entre a VIDA e a MORTE. A médio prazo deixarão de se formar profissionais de enfermagem e um dia, estaremos a ser tratados e não cuidados, por qualquer pessoa que saiba executar qualquer técnica mas sem a compreender, sem saber avaliar o cuidado.
Temos dos, senão os, profissionais de enfermagem melhor formados da Europa, com mais competências técnicas e relacionais e ainda assim, depois de tantos anos de esforço e dedicação, quer na formação, quer no exercício profissional, querem desvalorizar tudo isto com a contratação de mão de obra barata e quem sabe pouco qualificada (à semelhança do que disse acima sobre os médicos).
Esqueçam quem ganha mais ao final do mês só por um instante, assim como médicos e enfermeiros esquecem que é fim de semana e podiam estar na praia com a família como a maioria da população está. Esqueçam pensamentos da existência de médicos insensíveis e enfermeiros mal humorados, assim como eles esquecem as pessoas que lá vão sem realmente precisarem e gastar tempo precioso de alguém realmente necessitado.
Mais do que nunca, é altura de nos unirmos para um bem maior, o bem estar e saúde de todos nós!
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