sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Morrer na praia..

"Oportunidade

A 26 de Março de 1993 o mundo mudou.
A capa do The New York Times mostrava algo que a Sociedade do consumo imediato, da fartura e abundância, o 'American way of life' não estavam habituadas: uma criança emaciada, de bruços, engatinhada num chão de terra batida empoeirada enquanto um abutre esperava a sua morte para a refeição.
África era o símbolo da fome no Mundo, e o fotojornalista Kevin Carter conseguiu demonstrar todo o seu realismo num único fotograma.

A oportunidade da sua carreira, de fotografar mas não de interagir, garantiu-lhe, em Abril de 1994, o prémio Pulitzer pela imagem captada. Pelo serviço prestado em difundir uma realidade tão concreta e absoluta, táctil, que transformou a Sociedade Ocidental num todo.

Kevin nunca chegou a sabê-lo, mas África é hoje, ironicamente, o Continente detentor da Capital mais cara no Mundo para se viver, ainda que sustenha os piores índices de pobreza, pois o fotojornalista viveu os últimos meses da sua vida, desde que tirou a fotografia da pequena menina faminta em busca de comida, atormentado em angústia por ter feito apenas uma foto e não ajudado um ser tão Humano quanto ele.
A 27 de Julho de 1994 suicida-se.
O realismo da realidade não foi uma oportunidade de vida. Antes de morte.

A 2 de Setembro de 2015 o mundo mudou.
Os noticiários de todo o Mundo Ocidental mostraram algo que a Sociedade do consumo de crédito fácil, da factura e impostos, o 'European way of life' não estavam habituadas: uma criança como as nossas, de bruços, estendida num areal banhado pelas ondas do mar.
Estava morta. Afogada.
Um desses a quem se chamou de imigrante ilegal. Corrigiu-se para refugiado.
De quem, de praga passou a uma oportunidade laboral a aproveitar.

Europa é o símbolo da Democracia. Mais que isso: da Liberdade individual e da Paz.
Da possibilidade de se poder ser quem se é, perseguindo esse bem único e pessoal, transmissível e perecível: a Felicidade.

Para Aylan Kurdi, a criança de três anos que morreu afogada junto com o seu irmão Galip e a Mãe Rahan, a Europa foi o destino final de uma fuga iniciada na Síria. Já para o Pai, Abdullah Kurdi, a Síria será o seu destino, uma vez que aqui, perante a forma adversa e incapaz como se está a lidar com um problema cuja responsabilidade, em parte, em nós, assenta. Regressa para enterrar a sua Família. A sua vida que terminou nas encostas de um egoísmo burocrático.

Volta sem o maior bem que todos nós aqui temos sem percebermos ter: uma oportunidade.

Mas e uma solução... Não é disso que isto tudo se trata?
Há que haver uma solução.
Claro que há. Não será com certeza com abaixo-assinados risíveis a pedir que não se criem centros de refugiados para protecção do Turismo, nem muito menos dizendo culpabilizar a Alemanha pela vinda dos migrantes.

A culpa, em casos de migrações forçadas, em que a vinda de grandes massas de população por períodos de tempo concreto, morre virgem e solteira.
Claro que há sempre os que buscam a conjectura política ocorrida na Base das Lajes a 16 de Abril de 2003, para o desencadear da Guerra do Iraque, e por conseguinte, tudo o que daí adveio, e uma culpa Portuguesa no cartório.
Só que o livre arbítrio, mesmo onde não existe opção de escolha, designam que nada é garantido, e assim, isolar um acto para um efeito é só mitigar o problema actual para uma responsabilidade qualquer sem que se resolva o presente, permanecendo num distante passado.

A permanência, mesmo que não temporária, dos que buscam asilo da Guerra, em território Europeu, terá, por necessidade, de enfrentar um dos grandes tabus da União.
Não, não é a problemática do livre trânsito entre países. Antes fosse.
Não. O problema que se arrasta desde à longo tempo na Europa das amizades e simpatias, é o politicamente correcto entre portas, sem se perceber em como o mundo não nos aceita como nós os aceitamos a eles.

Se querem desfrutar do "European way of life", têm de cumprir as regras do "European way of life".
Aqui a razão não é uma inversão de valores. ´Será antes um 'toma lá dá cá', em que se tu queres ter determinado comportamento na nossa União, nós Europeus também poderemos nos comportar da mesma forma no teu país de origem.
Não devemos pedir nem mais nem menos.
Não é racismo, ideologia ou exclusão social.
É uma razão lógica de proporção.

Não te descrimino se tu não descriminares.
É bom senso.
É a oportunidade que eu te dou se tu me a deres a mim."



Foto de 1993, não a de 2015, mas as parecenças são abismais
 

1 comentário:

  1. Anónimo10:55:00

    Há uma série de factores nesta crise de refugiados que são por demais difíceis de perceber.
    Mas pondo tudo de lado, todas as perguntas que merecem resposta, porque não a tendo esta situação causa bastante perplexidade, e olhando somente para o aspecto humanitário, que no fundo é de facto o mais importante, há essa questão!
    Se queres vir para aqui em busca de uma oportunidade, nada contra! Mas eu aqui vivo e sempre vivi de uma determinada maneira! Respeita-me e estamos bem...

    O antigo ditado "Em Roma sê romano" aplica-se aqui! Ninguém quer saber de como vives a tua vida, em que é que acreditas...
    ...portanto não te rales com o que os outros pensam e em que é que acreditam e todos estão em paz!

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Dá a tua aparadela..