O que não falta por aí é gente que, desde tenra idade, tiveram uns pais a dizerem-lhes que o melhor era não fazerem isto ou aquilo. Que não valia a pena ter treinos de futebol porque era fraco das pernas, que não valia a pena ter aulas de dança porque tinha dois pés esquerdos, que não valia a pena estudar muito porque na família nunca ninguém terminou o 12º ano, que não valia a pena sonhar alto porque depois a queda é maior. E cresceram convictos que as coisas eram mesmo assim. Que uns estão talhados para o sucesso e que outros nascem, apenas, para um dia mais tarde morrerem. Com sorte, deixar alguma prole igualmente formatada para o sucesso da mediocridade. Hoje, vivem felizes da vida a toque de subsídios e clamam aos céus a sua pouca sorte e que os sortudos, aqueles que nasceram com o rabo virado para a lua, não sabem o que é sofrer.
Depois, há o inverso. Aqueles que, ainda na barriga das suas mães, já ouviam dizer que seriam o novo prodígio universal, enquanto eram embalados por Bach que saía dos headphones encostados ao umbigo. E enquanto foram crescendo, os seus queridos papás, tentando colmatar as suas falhas de adolescentes e vivendo os seus sonhos através deles, os incentivam a fazerem de tudo e ainda a ir à lua. Mais!, mais do que incentivar, aplaudem de pé todo e qualquer fracasso atingido, relembrando-lhes como eles são superdotados e que os outros é que não reconhecem o seu talento inato: serás um excelente pintor (mesmo que diga que juntar verde com amarelo dá castanho), serás um belíssimo escritor (mesmo que tenha 15 anos e esteja a terminar a 4ª classe), serás um cantor aclamado pelo mundo inteiro (mesmo que a criança tenha nascido muda). E crescem nesta ilusão que são mesmo bons, que todos os adoram, quando a realidade não podia ser mais oposta.
Por isso, é normal ver, nesses programas de procura de talentos, rapazes e raparigas a fazerem figuras, no mínimo, tristes. Não vale a pena estar com 'meias palavras' ou 'paninhos quentes', as figuras são mesmo ridículas e deploráveis. Em programas onde o talento que se procura é a voz, ou a capacidade para cantar, isto é ainda mais visível... e audível. Programas como o "Ídolos" tem a capacidade de mostrar todos aqueles meninos e meninas que cresceram com os paizinhos e mãezinhas a dizerem que "sim senhor, pareces um rouxinol!". E à primeira oportunidade, lá vão eles inscreverem-se porque "Tenho tudo para ser um ídolo.". É mentira, não tens. Não tens nem nunca tiveste. Sempre que a tua mãe te disse o contrário, foi o mesmo que te empurrar em direção ao precipício, que agora cais para que todo Portugal veja... e se ria enquanto cais desamparado.
Assim, da mesma forma que não têm o descernimento para perceber que não cantam um chavo, também não o têm para se lembrarem do que fizeram em edições anteriores a outros concorrentes como eles. Os outros da seção "os cromos". E se se riram das figuras dos outros, já não se conseguem rir das deles.
Isto tudo para falar da nova polémica que anda por aí. Que "ai meu deus" a SIC fez "bullying" a um miúdo que lá se apresentou para cantar e ser o novo ídolo pop rock português. Um miúdo que, para além de ter umas orelhas enormes, não sabia falar inglês. Sim, isso mesmo: não sabia falar inglês! No entanto, achava-se capaz de impressionar meio mundo. Claro que às pessoas-ofendidas-por-tudo-e-por-nada-de-hoje-em-dia a única coisa de que falam é da satirização que o programa lhe fez, aumentando-lhe as orelhas até tamanhos Babar (ou Dumbo, se assim o preferirem). Eu vi e ri-me. Ri-me a bom rir! Se já me tinha rido quando ele diz que não sabia falar inglês, quando vi as orelhas a ocuparem o meu ecrã de 46polegadas, ainda me ri mais. Da mesma forma que me rio quando os efeitos colocados pela produção são outros, sejam vidros a rachar ou paredes a cair. Mas as pessoas-ofendidas-por-tudo-e-por-nada-de-hoje-em-dia insistem no bullying, que o programa não pode fazer aquilo, que a criança vai ficar afetada para o resto da vida, que vai sofrer os horrores e as amarguras de ter sido rejeitado num programa onde, em primeiro e único lugar, nunca devia ter ido. E, quase de certeza (mas só na base do 'suponhamos'), que quando se inscrevem, assinam lá um documento a ceder os seus direitos de imagem, sejam eles bons ou maus. Por isso, não venham agora dizer que ele é um coitadinho e que a SIC é o capeta chifrudo. Se são pais, pensem bem antes de dizerem aos vossos filhos que eles são bons em alguma coisa em que são uma merda; se são jovens a quererem participar, olhem que às vezes - quase sempre - os vossos amigos têm razão.
Aqui está a foto e podem ver o video aqui.
Eu sempre defendi que a postura do Luis Jardim, quando lá andava, era a correcta.
ResponderEliminarA verdade é que aquilo é um programa para procurar vozes. Consequentemente, 90% dos artistas em Portugal seriam rejeitados naquele programa, o que não seria de estranhar...
...e não só os de Portugal!
Assim de repente, pessoas que não passariam num programa destes:
Fish (dos Marilion - canta desafinado que dá dó)
Madonna - Não canta um boi
Rhianna - desafina que doi
Roger Waters - Nunca afinou uma nota a cantar na vida dele
E a lista só não continua porque hoje em dia há prodigios de tecnologia que fazem pessoal como a britney spears e o Usher cantar afinadíssimos...
...basta ter uns quantos euros para um bom processador vocal!
Isto faz com que o programa, só por si, seja estúpido!
Independentemente disso, a Rihanna, A Madonna, O Fish, O Roger Waters deram ao mundo musicas descartáveis mas maioritáriamente agradáveis ao ouvido nuns casos e obras primas noutros (O Misplaced Childwood de Marillion continua a ser um dos meus albuns preferidos e nem vale a pena falar na carreira dos Pink Floyd até ao The final Cut...
...Porque independentemente de cantarem bem ou não, têm carisma, alma e sentimento!
O exemplo mais crasso disto talvez seja o Pedro Abrunhosa. Duvido que não fosse insultado por um juri num programa destes! E apesar de ele não cantar nadinha de nada, é um grande autor e interprete, além de ser um músico de excelência!
Posto isto, concordo contigo. A malta convence-se de que sabe cantar porque é o maior do karaoke lá do bairro, mas depois chega ali e estampa-se! Por isso gostava tanto do Luis Jardim que, sem papas na língua dizia o que achava...
...mas tinha o conhecimento e autoridade para o dizer!
E quem lá vai sabe ao que vai! Sem dúvida!
Mas uma coisa é num contexto de um programa que procura cantores teres alguém a criticar duramente a tua voz, a tua postura enquanto cantas, a tua atitude...
...outra coisa é teres um programa que procura cantores a gozar com uma característica física tua, que é genética...
...e que nada tem a ver com a tua voz, atitude ou postura - ou seja, não tem nada a ver com o que está a concurso. Isso já acho despropositado e absolutamente desnecessário...
Mas, claro, isto é a minha maneira de ver o mundo...
:)
Eu adoro é quando vem uma pata de dinossauro gigante esmagar o candidato. Lindo! :D
ResponderEliminar(mas olha que, quanto ao exemplo que deste das orelhas à Babar, também acho que não havia necessidade...)