E se isto já é assim numa corrida de 10kms, numa maratona, ainda é mais evidente.
Se
a minha primeira maratona, a de Lisboa no dia 5 Outubro de 2014, me
correu maravilhosamente, a do Porto, no passado dia 2 de Novembro,
correu-me francamente mal. E se eu estivesse mais atento aos sinais que
fui recebendo, poderia ter antecipado a desastre.
Começou
logo em Lisboa, com o atraso do comboio. Estava previsto sair às 9:39,
mas só depois das 10horas é que arrancámos. Como ia e regressava de
comboio, comprei bilhetes em 1ª classe, para poder esticar as pernas à
vontade no meu regresso. Ora, a carruagem tinha mais de 100 lugares,
sendo que estavam cerca de 10 pessoas lá dentro, mas a verdade é que
quando chego ao meu lugar, estava já um gajo lá sentado, mochila noutro
banco e jornal a ocupar a mesa toda. Como boa pessoa que sou (estúpido,
vá), disse-lhe que podia ficar e que eu e a minha namorada ficaríamos
nos bancos de frente para ele. Tivesse o outro gajo dois dedos de testa,
e teria saído dali e ido para o lugar dele, mas não. Não só continuou a
ocupar espaço que não lhe pertencia, como usurpou por completo a mesa,
esticava as pernas como se não estivessem ali outras pessoas e ainda
punha os sapatos em cima dos bancos. Isto é ainda pior tendo em conta
que o gajo pesava mais de 100kgs.
Chegados
ao hotel, mando mensagem a um amigo a perguntar onde é que ele estava.
Disse que a levantar o dorsal e que não davam a tshirt já, só depois de
passar a meta, e que a que estavam a dar era uma de algodão. A minha
reação não foi das melhores, pois não vinha a contar com tal situação e,
por isso, não trouxe outra tshirt técnica. A verdade é que gosto de
correr com a tshirt do evento, salvo raras exceções em que decido levar
uma especifica para aquela prova. Assim, mal cheguei ao Porto e fiquei a
saber que não tinha nenhuma tshirt para a prova. Rápida leitura no
regulamento da prova e vejo lá que a tshirt oficial da prova seria
entregue com os kits de levantamento e que os atletas deveriam correr
com ela vestida. Assim, ia com intenção de pedir justificações à
organização e exigir a minha tshirt. Antes do assunto estar resolvido,
falei com, pelo menos, 4 pessoas. Fiquei a saber que eu fui o primeiro
atleta a reclamar pela situação; que, de facto, o regulamento poderia
indicar que ofereceriam a tshirt antes da prova; que se quisesse podia
usar o livro de reclamações, mas que não o fiz, optando apenas por
enviar um email à organização expondo o problema e sugerindo uma
alteração no regulamento, indicando que a tshirt inicial é de algodão.
Ao fim de muito tempo de conversa, e de um telefonema, lá me dizem que
me vão oferecer uma tshirt técnica para eu não ter que gastar dinheiro a
comprar outra. Deram-me a da Corrida da Família 16kms, que é bastante
boa e que usei durante a prova sem qualquer tipo de problema.
Dia
da corrida. Pequeno-almoço tomado, tudo preparado e à porta do hotel à
espera dos que iam partir comigo. Deu para encontrar o grande João
Campos e tirar uma foto às barbas, encontrar 3 Pernas de Gafanhotos e
ver a alegria de grupos a tirar fotografias. Sabendo de antemão que não
fazia menos de 3h45’, parti do bloco mais atrás de todos. 3metros atrás,
estavam os atletas dos 16kms, com umas grandes a impedir que
avançassem. Quando faltam 5 minutos para a corrida começar, vejo um mar
de gente a passar por mim e a tentarem furar até lá mesmo à frente: eram
os atletas dos 16kms. Não posso concordar com esta decisão da
organização. Já se sabia que, ao tirarem as grades antes da partida, os
atletas iriam querer uma melhor posição de partida, mas a verdade é que
isto afetou as posições dos atletas da maratona. Não custava nada que só
deixassem sair depois dos atletas da maratona terem passado a partida,
permitindo que pudessem ter um inicio mais confortável. Assim, para além
de ter que andar durante algum tempo, tive que ultrapassar quem não
esperava ter de ultrapassar e, em alguns casos, ir quase parado porque
eram muitas pessoas a quererem passar em estradas estreitas ou em obras.
E foi assim até ao km 14, local onde atletas dos 16kms e da maratona
seguiam caminhos diferentes.
A
prova. Correu conforme esperado até ao km21, fazendo um tempo de 1h55’.
Era o que queria. Ao contrário da de Lisboa, queria guardar-me mais na
primeira parte e acelerar mais na segunda. Por volta do km18 vi o pace
das 4horas e pensei que o seguiria até aos 35kms, onde depois o
ultrapassaria. Mas a verdade é que a partir dos km23 comecei a ir
abaixo, as pernas não davam para mais e a cada passo sentia-as mais
pesadas. A juntar a isto, uma vontade de urinar, que já vinha desde o
km19, ajudou ainda mais à festa, criando-me um enorme mau-estar. Por
esta altura, já ia ao lado do rio, e era-me de todo impossível para num
sítio para me aliviar. Pensei em aguentar até ao km 20, onde haveria
casas de banho, mas ao passar por lá, nada, não havia. Olhando em volta,
em desespero, vejo-as ao longe, ao km 25 e do outro lado do rio. Assim
que lá cheguei, entrei e foi um alívio enorme. No entanto, os estragos
estavam feitos, tanto a nível físico como a nível anímico. A partir daí
arrastei-me o resto da prova. Ao km30 ia com menos de 3h e por momentos
pensei que, se o organismo conseguisse dar a volta, que ainda conseguia
ficar muito perto das 4h, quem sabe, abaixo. Mas o corpo não recuperou, a
mente não ajudou e terminei a prova em 4h32’. Foram quase duas horas
para fazer 12,195kms. Mas terminei a prova, lutei até ao fim e venci-a!
Sofri a bom sofrer. Não me lembro de alguma vez me ter sujeitado a tanto
sofrimento durante tanto tempo, sabendo que se estava a sofrer, bastava
parar, desistir, entrar numa daquelas tendas com a cruz vermelha e
pedir que me levassem até à meta. Mas não, mostrei a mim mesmo que a
resiliência está em nós e que nos aparece quando mais precisamos dela. O
que me fez terminar a prova, o que me levou do km30 ao km42,195 não
foram as pernas nem a mente, foi o coração. Aquele sentimento que só
quem corre uma maratona conhece. Cruzei a meta a correr, de braços no ar
e lágrimas a correr. Felizmente demorei tempo suficiente para que a
chuva caísse sobre nós com grande intensidade, disfarçando-as. Depois,
recebi um beijo da minha namorada, um abraça de um amigo que se deslocou
até lá para me ver, e dois hi-fives do João Campos. Fui buscar a
medalha e as oferendas finais.
Após
a corrida. Mais de uma hora a tentar encontrar a namorada, que não
encontrei. Quando finalmente lhe consegui ligar (do telemóvel de um
estranho, pois ela tinha guardado o meu depois da meta), já ela estava
no hotel. Apanhei o autocarro para lá, cheguei já depois da hora do
checkout, mas mesmo assim, deixaram-me subir para tomar um banho
(Obrigado, HF Tuela Porto). Depois do banho, enfiar-me debaixo dos
lençóis e cobertores, pois estava a entrar num estado de hipotermia em
que já nem conseguia segurar o queixo e já não tinha cor. Descemos,
fomos ao Capas Negras II comer uma francesinha, descansar nos sofás do
centro comercial, apanhar um táxi para a estação dos comboios com um
senhor que nos contou a história de como este ano ainda não lhe tinham
oferecido castanhas, rezámos para que os nossos lugares estivessem
desocupados e regressámos a Lisboa.
Só
quando cheguei a casa é que abri o saco das oferendas, e não pude
deixar de largar uma gargalhada enorme. Os sacos, oferecidos
aleatoriamente de acordo com os tamanhos das tshirts, continham uma
garrafa de Vinho do Porto, uma tshirt e os panfletos da praxe, mas o meu
era diferente, e chamem-lhe o que quiserem, mas a verdade é que no meu
saco estavam lá duas tshirts!
Veredito
final. Foi uma prova cheia de altos e baixos; uma prova que me custou
imenso mas que a terminei; apanhei umas das maiores molhas de sempre;
não achei o percurso nada de especial, muito repetitivo, uma vez que
passávamos sempre nos mesmos sítios; muito pouco público nas ruas a
puxar pelos atletas; talvez seja uma prova a repetir, só para me poder
vingar do tempo que fiz.
Oh Mustache, sei que não te sigo à muito tempo (se calhar já aqui falaste disso), mas por acaso tu és o mustache da mais chata?
ResponderEliminar*há
EliminarEspera!! Tu e a Chata estiveram no Porto no mesmo fim-de-semana, ela conta uma aventura do demo, tu idem aspas aspas, com direito a hotéis e duches quentes e coiso e tal...
ResponderEliminarNão! Não pode ser, não és tu! Nah!! Não acredito.
Hahaha um gajo aproveita a história de outra pessoa, cria uma história e toda a gente acredita.. Realmente sou um tretas mesmo bom! :p
ResponderEliminarToda a gente?? Eu não acreditei, olha que caraças! Mas que és treteiro, és, ora!
EliminarJá devias conhecer a minha capacidade criativa, depois da história dos limões, do teu desafio.. :)
EliminarUma pessoa começa a ler isto e... caramba, queres ver que também apanhou uma molha, ficou sem telemóvel, perdeu o cartão do cidadão e, ainda, perdeu a gaja?!
ResponderEliminarBem, vou acabar de ler...
Há pessoas que têm uma imaginação do caraças...
EliminarPrimeiro o Slide & Splash, agora isto... nááááááá... Isto é muito suspeito!
Não há nada de suspeito.. :) trust me. :)
EliminarNão vou pertencer à carneirada e dar-te os parabéns, caro amigo blogueiro!
ResponderEliminarAcho que desta vez provaste o sabor de uma maratona, no seu verdadeiro sentido. Também estive no Porto, por ocasião do meu aniversário, também apanhei uma molha, também encontrei um amigo, mas faltou-me um beijo da namorada. Um dia talvez.
Gostaria de estar mais presente, talvez numa próxima!
Abraço forte!
Acredita que o abraço que te dei me emocionou bastante! :)
Eliminar:* na próxima vou contigo!
EliminarTLDR. Isso é que foi uma maratona de palavras, que à semelhança do meu não gosto por correr, também não corri pra ler :P Sorry
ResponderEliminarEva, resumindo: apanhei uma valente molha e demorei 4h30m para correr 42,195kms! :)
EliminarQuerido querido Tretas...
ResponderEliminarAinda aguardo o meu prémio. Como se vê, com toda a razão de ser.
Hahahah por acaso, tens razão! Trato disso ainda antes do natal! :p
EliminarE o teu pequeno como se portou? A meio da prova deixei de o ver..
Olha o ajustamento Cósmico!
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