"Começa hoje a quarta edição do Festival Bons Sons, na aldeia de Cem
Soldos, em Tomar. Este ano, os concertos duplicaram: um total de 42,
numa espécie de banquete de música nacional.
Uma pesquisa na Wikipedia leva-nos a perceber que Cem Soldos, uma
aldeia no concelho de Tomar, é conhecida pela Festa da Aleluia. Se nunca
ouviu falar deste fenómeno, passamos a explicar: uma festa com mais de
500 anos em que os habitantes recolhem arbustos e aleluias (aquelas
flores amarelas) para decorar cruzes que são carregadas por rapazes que
completaram 18 anos. No fim disto, escolhe-se a cruz mais bonita e as
outras são partidas na escadaria da igreja lá do sítio, num acto
conhecido como “matança dos Judeus”.
Se não ficou entusiasmado com esta festividade, há outra que talvez o
convença a rumar a Cem Soldos. Desde 2006 que a aldeia é invadida de
dois em dois anos por pessoas que nunca lá tinham parado. Ninguém vai
carregar cruzes, longe disso, a não ser talvez as costas doridas do
campismo. Em vez de aleluias, colhem-se cervejas nas tasquinhas da
aldeia e quem vai à igreja é para ver concertos. O nome do festival que
deu fama a Cem Soldos também é mais simpático e não envolve matanças:
Bons Sons.
A ideia de fazer um festival com um cartaz exclusivamente dedicado à
música nacional partiu do Sport Clube Operário de Cem Soldos, que
decidia em 2006 comemorar o seu 25.º aniversário com uma festa
diferente. “Fizemos um plano alargado de comemorações para marcar a data
e aproveitámos a estrutura da festa popular da aldeia mas com uma
programação distinta”, conta Luís Ferreira, de 28 anos, o director do
festival. Em vez de Quim Barreiros e outros artistas de renome que
percorrem as festas populares no Verão, a associação trazia à sua terra
bandas como as Tukanas, Toques do Caramulo ou Skareta. Dois anos depois,
a festa repetia-se com Deolinda, Tora Tora Big Band, Rao Kyao, Kumpania
Algazarra e O’questrada. “O concerto dos Kumpania Algazarra era o
último da noite e estava a correr tão bem que durou até ser dia. Na
altura, a banda até disse que tinha sido o melhor concerto que tinham
dado”, recorda Luís.
Nesse ano, estima-se que estiveram no festival 30 mil pessoas, até
porque não havia bilheteira, número que se manteve em 2010, já com
bilhetes pagos e Dead Combo, Lula Pena, Diabo Na Cruz, B Fachada e
Fausto no cartaz. Este ano a organização prevê receber 40 mil pessoas
nos quatro dias do festival (começa hoje e prolonga-se até domingo) e o
número de concertos duplicou: são 42, todos de bandas nacionais, à
excepção de dois, “porque Espanha este ano é o país convidado e
trouxemos duas bandas”, explica Luís.
PAUS, Linda Martini, The Legendary Tiger Man, Maria João & Mário
Laginha, Capitão Fausto, You Can’t Win Charlie Brown, Gala Drop,
Vitorino e Filho da Mãe são alguns dos artistas que vão passar pelos
sete palcos espalhados pela aldeia que já se tornou “uma plataforma de
divulgação de música portuguesa”. A organização tem algumas regras para
escolher os artistas: só se podem repetir passados cinco anos, têm de
estar a produzir no momento e têm de ser variados, com projectos
embrionários e outros consagrados. “Só ao fim de cinco anos podemos
reprogramar para não criar facilitismo na programação e não convidarmos
só os nossos amigos ou aqueles que são garantia de casa cheia”, explica
Luís.
O director do Bons Sons garante também que o festival vai continuar a
ser bienal, “para que a actividade da associação se mantenha, sem se
tornar específica para o festival e para que haja uma boa convivência
entre Cem Soldos e o festival”.
Aparentemente a convivência não podia ser melhor. Os habitantes da
aldeia ajudam a erguer o festival e são eles que trabalham nas várias
áreas, “desde cozinheiras, engenheiros, arquitectos, designers ou
motoristas”.
www.bonssons.com. Bilhete diário: 15 euros; passe de quatro dias: 35 euros"
Por Clara Silva, publicado em 16 Ago 2012 - 16:47 - ionline
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