Eu já sabia que a noite prometia, que ia ser daquelas em que tudo pode acontecer, daquelas que o mais provável é termos que cancelar tudo o que se tinha combinado para domingo.. E a noite de ontem não foi exceção! Mas vamos por partes..
Decidi dar só uma ligeira arrumação no quarto, esconder umas coisas para dentro do guarda-fatos, outras para debaixo da cama, só para o caso de ter sorte! Ao não ser uma arrumação completa, talvez conseguisse
"enganar" o universo. Depois da banhoca, de vestir a roupa nova, ajeitar a barba, meti-me no carro e lá fui eu para a festa. Fui a pensar que seria dos últimos a chegar, mas toda a gente se atrasou, e fui eu o primeiro a chegar. O que teve o seu lado bom, fiquei a receber as pessoas, enquanto iam chegando umas a seguir às outras. Conversa para aqui, conversa para ali, até que o meu olhar se prende num vulto que vinha lá ao fundo. Uma mulher, com um vestido de primavera, cabelos soltos ao sabor do vento, uma pequena mala ao ombro, um corpo que parecia ter sido esculpido pelos melhores artesãos do mundo, caminhava elegantemente na nossa direção. Há medida que se ia aproximando, consegui ver-lhe a fisionomia, uns olhos verdes enormes, uns lábios carnudos pintados de vermelho, o cabelo castanho claro e a pele com um tom de quem já aproveitou uns dias de sol, e vi que também os olhos dela se tinham fixado nos meus.
Não nos conheciamos, fomos apresentados, e sabiamos que tinhamos uma noite pela frente para nos conhecermos melhor.
Como a festa era num espaço alugado, o número de pessoas era restrito, e assim, era fácil estar em constante conversa com quem se queria. Depois da música começar a tocar, enquanto o cozinheiro preparava as entradas e os pratos principais, decidi abrir uma garrafa de vinho, tinto alentejano, de Arraiolos, e prontamente ofereci um copo à M.
(vamos-lhe chamar assim), que de bom grado aceitou.
A conversa fluiu naturalmente, com pequenas risadas e olhares que me deixaram perceber que o interesse não era só da minha parte. A comida está finalmente pronta e na altura de me sentar à mesa, pensei em ser audaz e não me sentar ao lado dela, sabendo que com isso podia deitar tudo a perder, mas ficando perto o suficiente para podermos conversar, E a verdade é que foi a melhor decisão. Entre conversas paralelas, entre música de fundo, entre copos a brindarem, entre gargalhadas, dentro deste universo, existia um outro universo, o meu e o dela. Os olhares tornaram-se demasiado intensos, os sorrisos demasiado cúmplices, o desejo demasiado palpável. Depois da refeição, quando toda a gente se começou a levantar e a dispersar um pouco pelo espaço, fomo-nos sentar num sofá, acompanhados de um copo de vinho. Se nos podiamos ter sentado mais afastados, podiamos, mas de que outra forma poderiamos sentir o calor do corpo do outro? Falámos, rimos, ficámos em silêncio, disse-lhe
"Desculpa-me toda a honestidade, mas és sem dúvida, a mulher mais linda que eu já tive o prazer de conhecer.", e vi-a corar ao desviar o olhar do meu e a fixá-lo na ponta dos seus sapatos. Quando voltou a olhar para mim, não lhe disse nada e apenas a beijei. Beijei-a calmamente, mas com volupia, e ela devolveu o beijo da mesma forma.
Passos e vozes! Alguém vem aí. Separamo-nos um pouco e fomos rodeados pelas outras pessoas, que se foram sentando por ali. Aproveitamos a oportunidade para nos juntarmos mais, com a desculpa de mais pessoas se sentarem.
Uma e meia da madrugada, hora de se ir para outro local. Quantos somos, quem já bebeu, quem pode conduzir, quantos carros levamos? As perguntas habituais. Levamos 4 carros? Mas assim sobram duas pessoas.
"Não faz mal" - digo eu -
"posso levar o meu e a M. vai comigo.". Entrámos no carro e segui um caminho que não o para o sitio combinado por todos. Ela apercebeu-se disso, olhou para mim e sorriu. Sabiamos que não podiamos perder mais tempo, sabiamos que já não queriamos a companhia de muitas pessoas, sabiamos que queriamos o nosso espaço, o nosso tempo, os nossos corpos nús em contacto um com o outro. Conduzi até minha casa, pensando que tinha enganado o universo. Subimos, entrámos em casa, corremos para o quarto. Se ela reparou em alguma desarrumação, não o disse, simplesmente agarrou-se a mim até cairmos para cima da cama. Entre beijos e caricias, começamos a tirar lentamente a roupa um do outro. Quando lhe tirei o vestido, tive que contemplar o seu corpo durante algum tempo. Era perfeito! A cor da sua pele fazia um contraste perfeito com a lingerie preta, a cintura era estreira, os seios do tamanho certo para o seu corpo. Já estávamos completamente nús quando meto a mão à gaveta e entro e pânico: não tinha preservativos! Como é que eu me fui esquecer de uma coisa destas? Ao ver a minha expressão, ela perguntou o que se passava, e quando lho disse, vi a sua expressão de tristeza. Rapidamente lhe disse que ia à rua comprar e que ela podia ficar ali, ao que ela me disse
"Não vale a pena.."
Pensei logo que afinal o universo sempre tinha levado a melhor sobre mim de novo, mas então ela terminou a frase
"... eu vou contigo, que no caminho para minha casa, passamos por uma farmácia."
Assim foi. E na casa dela, não fizemos amor.. Nós dançamos ao som de harpas tocados por eunucos, os corpos estavam numa sintonia tal que pareciamos amantes de longa data. Percorremos cada milimetro do corpo de cada um, sem medos e sem tabús. Demos prazer um ao outro, de forma intensa e prolongada. Pouco depois das 7h da manhã, adormecemos, a cabeça dela no meu peito, as pernas entrelaçadas, os seios dela contra o meu corpo e eu a envolvê-la nos meus braços.
Às 8h, o meu telemóvel toca, era o meu irmão. Queria saber onde é que eu andava, pois tinhamos uma prova daí a 2horas, da qual nunca mais me lembrei. Não atendi, apenas enviei mensagem a dizer que não podia ir e a pedir desculpa. Ela acordou, beijou-me o peito, o pescoço, os lábios, e recomeçamos onde tinhamos ficado durante a madrugada.
Agora, ou aconteceu isto, ou apanhei uma enorme bebedeira, fiquei a dormir na rua, e fui acordado por um cão que estava a fazer o amor com a minha perna! Vocês decidem!