segunda-feira, 22 de junho de 2015

Somos, na grande maioria, muito mal formados.

Raramente ando de transportes públicos. Porque tenho carro próprio e porque não suporto as pessoas que andam neles todos os dias e que acham que têm o lugar marcado. Há uns anos, quando tive de andar de metro, levava sempre um livro com uma gaja de burka na capa, o que me valeu ter sempre lugar sentado. O ataque lá às gémeas era recente e o livro devia assustar muita malta. (Agora que penso nisso, acho que não levei uma navalhada no bucho porque não calhou).

Adiante. No último sábado, por motivos vários, decidi usar o metro. Fim de semana, era provável que não houvesse muita gente a frequentá-lo. Entro e deixo-me ir em pé, encostado a uma parede em frente a uma porta. Na paragem seguinte, entrou um rapaz que tinha claramente problemas físicos e, possivelmente, cognitivos. Vinha carregado com um saco de desporto mas tinha dificuldade em andar e em mexer os braços. O fio de saliva que lhe escorria por fora dos lábios, indicava que era um rapaz com problemas. Ele entrou e olhou em volta. Nada de lugares vazios, pelo que se agarrou a um poste central e, a custo, levantou um braço para se segurar num dos apoios do teto. As pessoas que estavam sentadas - desde jovens a adultos e idosos - olharam para ele. Olharam e desviaram a cara na primeira curva onde o rapaz parecia que ia cair a qualquer momento. A partir desse momento, não mais o fitaram. Espetaram os olhos na biqueira dos sapatos ou nos telemóveis e ignoraram por completo o rapaz em dificuldades. Não houve uma única pessoa que tenha cedido o seu lugar ou, pelo menos, lhe tenha perguntado se se queria sentar. Claro que assim que saíram pessoas, o rapaz cambaleou até eles e sentou-se, fazendo o resto da viagem bem mais descansado e sem correr o risco de cair.

Eu sei que ninguém é obrigado a ceder o lugar. Sei que o rapaz, para ali andar sozinho, é uma pessoa autónoma. Mas também sei que não custa nada abdicarmos um pouco do nosso conforto para que alguém mais necessitado o possa ter.

16 comentários:

  1. Percebo perfeitamente o que dizes. É nos transportes públicos que se vê a falta de cidadania das pessoas. Reza a Deus para nunca teres que pôr os pés na Carris. E em dia de greve de metro.

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    1. Se isso acontecer um dia, meto baixa e fico em casa doente para não ir trabalhar. Ou então peço ao meu motorista.

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  2. Anónimo19:49:00

    Enfim, não somos cívicos. Não somos obrigados a ceder o lugar, é certo, mas é uma questão de bom senso...

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    1. O bom senso devia ser obrigatório. Disciplina obrigatória desde o 1º ano que se entra na escola, logo aos 5 ou 6 anos, até se sair da universidade.

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  3. Pão nosso de cada dia! Então no que diz respeito a ceder lugar a pessoas idosas, tá quieto...

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    1. Acredito que, às vezes, embrenhadas como estão nos telemóveis e tal, nem se apercebam de quem os rodeia, mas, neste caso, foi evidente que todos viram o rapaz.

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    2. Dos casos que falo, também foi evidente. Lembro-me de um numa paragem de autocarro... Três pitas sentadas na paragem e eu de pé. Chega uma senhora nos seus 80, com aspeto cifótico e carregada até não poder mais. A espera pelo autocarro foi de, no mínimo, 20min... Os mesmos minutos que as tais pitas acéfalas tiveram para pôr a mão na consciência e ceder o lugar à senhora, o que não se verificou.

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  4. Não somos obrigados? Então para que servem aquela sinalética de grávidas , deficientes e idosos em determinados lugares? Claro que somos obrigados a ceder os lugares. A questão é que ninguém nos obriga. É. O ser humano contemporâneo é um abestalhado. Pelo menos, têm a decência de não colocar aqui muitos comentários de indignação. Normalmente são às centenas ou milhares. Mas, depois, esses milhares de indignados, na vida real, nunca aparecem. :)

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    1. Já me disseram isso hoje, mas, tal como disse à outra pessoa, o facto de nunca andar de metro, faz com que seja ignorante em alguns aspectos. Não sei se os lugares perto do rapaz eram esses destinados a deficientes, idosos ou grávidas, mas também, e verdade seja dita, poderia ter dito alguma coisa. Quando saí da carruagem fui algum tempo a pensar que devia ter dito a alguém para ceder o lugar, mas também achei que todos deviam ter 2 dedos de testa e ver o que se passava e ceder o lugar.
      E, já se sabe, tanto erra o que rouba como aquele que vê roubar e nada diz.

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    2. Anónimo08:34:00

      Pois olha que até somos obrigados a ceder o lugar. Se reparares bem, lá nos bancos, não em todos, mas em alguns, há um sinalinho que diz que gravidas, deficientes e pessoas com crianças de colo tem a prioridade...
      ...portanto o pessoal que estava a olhar para as biqueiras sabia que não estava a fazê-la boa!
      Aparte isso, sim, somos completamente incivilizados, completamente centrados no nosso umbigo, e os problemas dos outros, comparados com os nossos, são peanuts!
      Os mais velhos acham que têm direito a tudo, desrespeitam toda a gente e ainda acham que o resto do mundo não tem educação, os mais novos cresceram sozinho e são completamente incivilizados, os de meia idade não querem saber de ninguém. Quando elevas aquele pequeno mundo da carruagem de metro para uma escala maior, por exemplo, à escala de um país, percebes porque é que nada se faz nem resolve aqui e como é possível sermos governados por quem somos. É que ninguém mexe uma palha se não vir algum proveito imediato a vir daí (ainda que pudesse ver grandes proveitos a médio-longo prazo)!

      :)

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    3. Pois, parece que há lugares dedicados a essas pessoas, mas eu não sabia, nem reparei se estavam ou não. De qualquer forma, estando ou não, a educação "manda" ceder o lugar.
      Sem dúvida que extrapolar isto para um país é ainda mais surreal!

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  5. É ridícula a falta de civismo e a falta de educação que se vive neste país! É como o agarrar na porta para uma pessoa com dificuldades ou que vai a empurrar uma cadeira de rodas passar, como o segurar a porta do elevador para a senhora que vem quase a chegar e tantas outras coisas simples e básicas que muita gente não faz!

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    1. Sem dúvida. Eu tento ao máximo estar atento ao que me rodeia e ajudar naquilo que posso, mesmo que sejam essas pequenas (grandes) coisas. Nem te passa pela cabeça as vezes que me buzinam porque parei numa passadeira para deixar passar uma pessoa idosa com dificuldade a andar.

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  6. estamos vivendo tempos em que a Humanidade esta cada vez menos "humana"... com diria o Darwin.... descendemos dos macacos ... e continuamos "descendo"

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    1. Às vezes até parece que os macacos são mais evoluidos que nós. Olhamos demasiado para o nosso umbigo.

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  7. A falta de civismo cresce de forma galopante, e isto é assustador... O ser humano está cada vez mais umbiguista...

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