sexta-feira, 4 de abril de 2014

Conto ou realidade #1


Acordo com o corpo dorido. Como se tivesse despertado de um sonho demasiado real. Como se umas mãos, enormes e pesadas, não me tivesse atingido a cara, abrindo caminho até ao osso, rasgando pele e cortando carne. Olho em meu redor e tento perceber onde estou. O coração acelera quando me tento mexer e não sou capaz. No meio de um barracão poeirento e desarrumado, estou prostrado numa cadeira de metal -velha e ferrugenta-, mãos e pés atados, conseguindo apenas mexer a cabeça – latejante e cambaleante –, a boca amordaçada com um pano com um sabor a sangue e suor. A juntar à escuridão, apenas cortada pela fraca luz que passa pela finas frestas daquelas paredes de madeira, um silêncio sepulcral tortura-me mais do que mil tambores a rufar em uníssono dentro dos meus ouvidos. Os meus olhos pouco mais me deixam vislumbrar do que aquilo que veria ao espreitar por uma fechadura com a chave lá dentro, de tanta pancada que levaram. Com força, fecho essa nesga a que chamo de olho, numa tentativa de voltar a adormecer, de voltar àquele sonho onde a dor não residia nem no corpo nem na mente.

Desperto de novo até à realidade. Desta vez, acordando com o som estridente de metal a bater em metal. A porta aberta deixa-me vislumbrar, a contraluz, a silhueta de um homem debruçado sobre uma bancada repleta de ferramentas. À medida que me vou habituando à claridade, o meu coração acelera descontrolado e o pânico cresce, ao ver o que me rodeia: caveiras, muitas caveiras. Umas humanas, outras de animais. Fecho os olhos durante uns segundos. Talvez isto seja só um sonho. Reabro-os e sei, definitivamente, que apenas sou parte do sonho de um qualquer tresloucado. Ao ouvir tossir, olho de novo para aquele homem – baixo, gordo e ligeiramente corcunda –, que segura uma enorme faca numa das mãos. Dirige-se na minha direção e baixo a cabeça, evitando olhar para aquela figura grotesca. Quando chega perto de mim, usa a ponta da faca para me levantar a cabeça e me olhar nos olhos. A sua cara é um amontoado de cicatrizes. Aproxima a sua cara da minha e sinto o seu hálito pútrido quando me sorri e lhe vejo uma boca de escassos dentes, todos eles partidos e podres. Quando me faz o primeiro golpe no peito e o sangue escorre até ao meu colo, solta uma gargalhada vencedora, enquanto o meu grito mais não é do que um gemido, constrangido pela mordaça que ainda tenho. Não sei porque aqui estou, mas sei o meu destino: ser, apenas, mais uma destas caveiras que repousam nas paredes. 



6 comentários:

  1. Hmm... Muda lá de tema. Creepy.

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  2. Não gosto de caveiras. Ao menos se tivesse um bigodinho nao ficava tao creepy :P

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    1. hahaha se calhar, se procurar bem na net, devo conseguir encontrar uma caveira com bigode! :D

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  3. Must, tu não podes ver filmes de terror antes de ires para a cama! Tssssstttttt

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    1. O problema é que não preciso ver filmes de terror para me lembrar destas coisas.. :p

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Dá a tua aparadela..