terça-feira, 12 de novembro de 2013

Texto 9..



Prostrado à sombra do enorme carvalho, Carlos preparava-se para lhe ler mais uma carta.

“Clara, meu amor, tenho tantas saudades tuas. Todos os dias venho aqui a esta árvore, que em tempos foi a nossa fortaleza no céu, e olho para ti. Tantos momentos inesquecíveis por nós aqui vividos. O meu coração chora sem parar desde que nos deixaste há quatro anos. Não perdoo a Deus por te ter feito isto, por nos ter feito isto, por te ter tirado de mim, dos nossos filhos. Chama-me egoísta se quiseres, mas mesmo que Ele te quisesse a seu lado, havia outra altura para o fazer, outras formas de o fazer. Maneiras mais simples, menos dolorosas. Dizem que não há morte mais bela do que morrer durante o sono, mas eu não consigo ver beleza na tua morte e nunca Lhe perdoarei o sofrimento causado ao longo de 5 anos por causa daquele maldito cancro. Eu queria-te comigo até ao fim, ao meu fim. Preferia ter morrido um segundo antes de ti, para nunca sentir a tua falta. Queria que te sentasses comigo todos os dias no alpendre da casa que viu nascer os nossos filhos, para nos lembrarmos dos tempos passados.
Num dia soalheiro dum Outono que se sentia demasiado frio, quase adivinhando o que estava para vir, fizeste-me um pedido inesperado e nunca me esqueci das tuas palavras: «Carlos, quando os dias findarem para mim, quando finalmente escurecerem para sempre, promete que iluminas o meu último caminho, que me dás lume e chamas.» - e,reparando no meu ar confuso, sorriste e continuaste – «Quero ser cremada. Quero que as minhas cinzas repousem para sempre naquele buraco do nosso carvalho, caixa correio do nosso amor.».
Tínhamos 10 anos quando começámos a trocar cartas usando este tão pouco usual método. Éramos crianças e sabia-nos bem.A pouco e pouco, passaram de cartas de amizade para cartas de amor. Hoje, todos os anos, deixo-te cartas de saudade. Saudades de ti, do teu sorriso contagiante, da tua alegria apaixonante, do fogo que tinhas pela vida. Agora, vir aqui, é fugir da escuridão. Hoje, és tu, o lume que aquece o meu coração.”

                Limpando as lágrimas, colocou a carta no envelope e, enfiando a mão no buraco, guardou-a ao lado da urna fria onde Clara repousava.

2 comentários:

  1. Anónimo12:30:00

    Aquele júri está compradinho, compradinho, compradinho....!

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    1. Não digas isso que ele pode aqui vir.. :)

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Dá a tua aparadela..