terça-feira, 8 de outubro de 2013

Texto 4...

Os dedos trémulos pousados sobre o teclado, o cursor a viajar sobre o botão ENVIAR… A certeza que depois disto nada será igual. Sequências de más decisões, maus julgamentos, falsos amigos, trouxeram-me até aqui. Uma vida repleta de vícios, trabalho, mulheres, esquecimentos daquilo que realmente importava, gastaram-me mais do que a própria vida.
Pensamentos que nunca antes tive, percorrem-me a mente e a alma. Choro por dentro, só por dentro, pois as lágrimas há muito que deixaram de escorrer por este rosto carregado de mágoa, solidão e angústia. A vida, essa, deixei-a ao abandono, e ao abandono fui deixado por todos. A mulher que amei, hoje não é mais do que uma recordação numa foto gasta pelo tempo. Os filhos que nunca lhe dei e que sempre me pediu. Os amigos - esses sacanas sanguessugas que só me viam como um animal donde podiam sugar o seu alimento - abandonaram-me ainda eu não ia a meio da queda. As mulheres que sempre tive, nunca me amaram. Sempre me prometeram amor eterno, uma garra no coração - apertando-o com força para que não o sentisse - e uma mão na carteira.
Abandonado por todos, olho-me ao espelho e vejo um homem triste, desolado e amargurado. Atrás da enorme secretária de madeira de carvalho, bem trabalhada, releio mais uma vez o que escrevi. Pergunto-me se alguém se importará com a minha ausência física, depois de anos de tantas outras ausências. Talvez se o enviar e não fizer mais nada, talvez, quem sabe, alguém venha até mim, alguém apareça para me tirar do fundo do buraco que eu próprio escavei durante anos a fio. Mas assim serei um fraco, um cobarde, um “merdas”, ainda menos merecedor da pena daqueles que um dia ainda me conheceram amável e sonhador. Não os mereço, nunca os mereci, hoje sei isso. Mereço apenas a solidão esmagadora que me consome a alma.
Olho para a gaveta e ali está ela. Cabo de madeira e cano em ferro. Seis buracos por preencher. Uma bala a seu lado espera para ser disparada, para aquecer o cano, para me acalmar o espírito. Carrego-a e levo-a à boca. Fecho os olhos e, finalmente, uma lágrima brota deles. O único clique que se ouve é aquele que o puxar do gatilho provoca. Os dedos sem vida pousados sobre o teclado, o cursor imóvel sobre o botão ENVIAR. Uma mensagem que nunca será enviada.

5 comentários:

  1. Este tem que ganhar mais que os outros (sim, foi o que mais gostei :$). No teu acaba-se uma vida, no meu, ganha-se! É a lei da compensação :)

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    1. Pois que não ganhou mais do que os outros... lool
      O júri não percebe nada disto... deu a vitória a um texto fraco e previsivel.. :(

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  2. Anónimo14:57:00

    Tu e a mania de matar gente :P mas gosto da intensidade do texto!!!

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    1. Alguém tem que morrer de vez em quando.. :)
      Obrigado! :)

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Dá a tua aparadela..