quinta-feira, 8 de agosto de 2013

1984..

Para além de ser o melhor ano de todos os anos, é também o titulo de um livro de George Orwell.
A minha professora de Teorias da Comunicação recomendou lermos o livro, e foi isso que eu fiz nas férias do carnaval, ou da páscoa, já não me lembro. Mas ela também me disse que certos livros devem ser lidos duas vezes, se possivel, logo seguidas. A primeira leitura mais rápida e sem aprofundar; a segunda leitura mais lenta e percebendo bem a mensagem e tentando relacionar com o estado atual em que a pessoa vive.

Pois que durante esta segunda leitura, algo me saltou à vista e que vou partilhar aqui convosco. É uma passagem de um livro que a personagem principal está a ler e que é o livro que todos os membros da "resistência" ao Partido, leem antes de serem membros.

Atenção! O livro foi publicado em 1949! E qualquer semelhança com a realidade de hoje, é pura coincidência... ou daí, talvez não!


Teoria e Pratica do Colectivismo Oligárquico

Capitulo III - Guerra é Paz

"(...) Todavia, subsistem ainda os perigos inerentes à máquina. a partir do momento em que a máquina entrou em cena, tornou-se evidente para todas as cabeças pensantes que desaparecera a necessidade da dura labuta humana, e com ela, em grande medida, a da desigualdade entre os homens. Se a máquina tivesse sido conscientemente utilizada para esse fim, a fome, o excesso de trabalho, a falta de higiene, o analfabetismo e a doença poderiam ter desaparecido em poucas gerações. E, de facto, mesmo sem ser usada com esse propósito, apenas por uma espécie de processo automático - ao produzir riqueza por vezes impossivel de não distribuir -, a máquina elevou grandemente o nível de vida da maioria dos homens durante cerca de cinquenta anos, entre o final do século XIX e o início do século XX.
Mas tornou-se igualmente claro que o aumento global da riqueza ameaçava destruir a sociedade hierárquica - e isso, num certo sentido constituía, só por si, a destruição desta. Num mundo onde toda a gente poucas horas trabalhasse, não lhe faltasse comida, vivesse em habitações com frigorifico e casa de banho e tivesse automóvel ou mesmo avião, as formas mais óbvias e talvez mais importantes de desigualdade teriam desaparecido. No dia em que a riqueza se generalizasse, ela deixaria de conferir distinção. Sem dúvida, em abstracto, seria viável uma sociedade onde a riqueza, no sentido de posse de bens e luxos, fosse equitativamente distribuída, enquanto, por seu lado, o poder continuaria nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Mas na prática tal sociedade não poderia manter-se estável por muito tempo. De facto, se todos tivessem igual acesso a lazer e à segurança, a grande maioria dos seres humanos, que normalmente vivem embrutecidos pela pobreza, instruir-se-iam e aprenderiam a pensar pela sua própria cabeça; a partir daí, cedo ou tarde concluiriam que a minoria privilegiada não desempenhava qualquer função, e acabariam com ela. A longo prazo, a organização hierarquica da sociedade só seria viável assentando de novo na pobreza e na ignorância. Regressar ao passado agrícola, como alguns pensadores do início do século XX sonharam: impraticável. Contrariava a tendência para a mecanização, que se tornara quase institiva em todo o mundo, e além disso qualquer país industrialmente atrasado ficava militarmente à mercê, acabando por vir a ser dominado, directa ou indirectamente, pelos seus rivais mais avançados.
Também não resultava satisfatório manter as massas na pobreza restringindo a produção de bens. Foi o que aconteceu, em geral, na fase limite do capitalismo, aproximadamente emtre 1920 e 1940. Deixou-se estagnar a economia de muitos países, pararam o cultivo da terra, não se investiu nos equipamentos de base, grandes grupos de população foram privados de trabalho e mantidos no extremo da sobrevivência, a expensas do Estado. Mas também isto provocava uma situação de fraqueza militar e, sendo as privações infligidas manifestamente desnecessárias, a revolta tornava-se inevitável. O problema residia em descobrir como manter em funcionamento as engrenagens da industria sem aumentar a riqueza efectiva do mundo. Impunha-se assim produzir bens, mas sem os distribuir. E, na prática, o único meio de consegui-lo era a guerra permanente.(...)"

Agora, se me fazem um favor, e para quem nunca leu este livro, corram até à primeira livraria que conheçam, comprem o livro e leiam-no! 

20 comentários:

  1. Já li o livro, há alguns anos, e adorei.
    É como dizes, é assustadoramente actual.
    Belo excerto! ;)

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    1. A par de tantos outros excertos que aqui poderia pôr.
      Mas é impossível olhar para aqui e não ver que é exatamente o que se passa nos dias de hoje!

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  2. Li há uns anos, não sei dizer quantos, mas já na altura fiquei com a mesma ideia: assustadoramente actual.

    Vou reler.

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    1. Acho que fazes muito bem. Vais ver que vais estar a ler uma história atual.

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  3. Anónimo11:58:00

    Li-o no 1º ano da faculdade onde também tinha Teorias da Comunicação :p Na altura achei que o Orwell era um visionário e quando o reli, já depois de terminar o curso, cheguei à conclusão que este livro nunca estará desactualizado.

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    1. Não tenhas dúvidas. Será sempre isto que vai acontecer, de uma forma ou de outra.

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  4. Eu vou comprar. Encaixa na perfeição nos dias que correm e é assustador,porque não evoluimos nada enquanto sociedade,e enquanto pessoas..
    Estamos a falar de um visionário,portanto.
    faça-se alguma coisa por favor,é urgente.
    Um beijinho

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    1. E o autor introduziu aqui uma coisa bastante interessante, que, se leres, vais perceber: o conceito de Big-Brother, ou Grande-Irmão. Alguém que te vigia 24h por dia, todos os dias.

      Daí os nomes dos programas tão famosos da tv, em que as pessoas são postas numa casa, vigiadas, privadas de informação, sujeitas a manipulação por parte do Grande Irmão, e que se desenrasquem, tentando não se matarem.

      Acho que é daquelas leituras obrigatórias! :)

      Beijinho

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  5. Li há uns anos e fiquei com a mesma sensação de agora:
    Quem inventou a "máxima" de que a água não volta a passar debaixo da mesma ponte, ou não conhece o ciclo da água, ou é parvo.
    Também os que dizem que a história não se repete, nunca devem ter estudado história.
    Como na moda, a história acaba sempre por se repetir, apenas com algumas nuances adequadas à época.
    Estes autores ditos visionários, não são mais do que estudiosos da história e bons observadores. :(

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    1. Bem, este senhor introduziu o conceito de Big-Brother, hoje muito utilizado noutro conceito, mas a ideia está lá.

      Mas sim, basta perceber de história e ter dois dedos de testa para sabermos que o que aconteceu há uns anos, irá acontecer de novo.

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  6. Contudo, hoje em dia as Coisas já não se obtém através da força. Fazem-se através de outros métodos mais silenciosos. A criação de divida e a conquista de países através da dependência.

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    1. Oh Diogo, não sei em que mundo vives, mas, hoje, tudo se continua a ganhar através da força. Quantos países não continuam a invadir outros para os dominar? Quantas vezes os EUA "invadem" países com a desculpa de que os vão "democratizar", quando sabemos que é apenas questões económicas que os movem? E a criação da divida e da dependência, não será também um tipo de força, embora não militar?

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    2. Eu acho que entendi bem aquilo que o Diogo quer dizer, e muito sinceramente, o número de colonizados pela cultura pop pós-80 em relação aos países invadidos de forma a democratizar é bastante díspar.

      O que basicamente quero afirmar é que esta cultura de globalização americana e da propagação do American Dream pela Europa e resto do Mundo, acaba por ser tão trágica a nível económico e social, como uma invasão. Ok, não há tantas mortes directas, mas pensando bem, se formos a pensar na introdução de certos produtos como a Coca-Cola e outras coisas na nossa alimentação, vemos que a coisa chega lá perto.

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  7. Agora imagina leres uma obra de 1854 e veres que as coisas também batem certo ;)

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    1. P.S: só ainda não o comprei, porque tenho ainda muitos livros para ler em casa antes desse.

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  8. Ainda por cima és mais novo do que eu!
    Estou tentada a adiar o café ad eternum...
    :)

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    1. Não julgues um home pela sua idade, da mesma forma que eu não julgo uma mulher pela sua cor do cabelo.
      Mas tu é que perdes.. :)

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    2. Ya, também já tinha percebido que é atraído por loiras!
      Defintivamente A Chata faz muito mais o teu género. Já experimentaste convidar a moça para um café?

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    3. Curiosamente, nunca namorei com uma loira.
      Eu e a Chata é só platónico...
      Eu sei - e quero - que vou ficar para tio!

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  9. Olha, a parte boa é que podemos envelhecer juntos e rabugentos num lar de 3ª idade caquético!

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Dá a tua aparadela..